quarta-feira, 9 de abril de 2008

Alexanderplatz


Já era 15h de sexta-feira quando Clara deixava a estação da S-bahn da Alexanderplatz, ia caminhando em direção ao ponto do strassenbahn para ir pra casa. Só um pensamento lhe ocorria, ver Roberto aquela noite. Seu marido fora visitar os pais em Roma no inicio da semana, ganhara uma folga extra depois de solucionar um problema na empresa, um bônus, uma semana de folga e mais 2000 euros. Ela infelizmente não poderia ir junto, tinha o escritório pra comandar com sua sócia, só poderia ir pra casa da sogra na sexta à noite, pelo menos o feriado de Christushimmelfahr era na segunda, uma beleza, iria passar uns bons dias em Roma e ouvir as histórias do Don Afonso, seu sogro.

Mundo globalizado, pensou ela, uma mulher brasileira casada com um homem italiano, morando na Alemanha...

Já estava a frente do painel de horários, conferira o relógio, 5 min e o seu VLT chegaria. Lembrou-se de quando chegou depois do almoço e disse para seus funcionários, “Gente, hoje é sexta, segunda é feriado, nosso trabalho tá concluído, na terça é só entregar pro cliente, então, podem ir pra casa!”.

A cara de atônitos de vários olhos azuis que a encaravam era hilária! No mínimo algum dos colegas deve ter pensado, “Isso é coisa de brasileiro!”, ela não ligara, fechou o expediente e foi pegar o metrô e agora estava esperando o VLT, louca para ir pra casa pegar a mala e entregar Süsse para Ywone cuidar na sua ausência. A gatinha já havia ficado algumas vezes com sua amiga e vizinha. “Preciso trazer algo pra Ywone!” pensava clara.

Clara tinha 39 anos, seus cabelos negros e cacheados emolduravam um rosto delicado com pequenos traços indígenas, os lábios carnudos eram heranças da mãe, Dona Isadora, Mulata carioca, sua grande amiga agora longe, contudo com data certa para rever, pois suas férias estavam para chegar e combinadas com a de Roberto.
A discreta roupa preta e azul modelava seu corpo e perdida em pensamentos Clara sentiu que era observada. Olhou discretamente para o lado como se fosse olhar a propaganda do cinema logo na esquina, e viu com o rabo de olho um rapaz que a olhava. Ele aparentava ter 23 anos, era alto magro, olhos azuis e cabelos castanhos claro, bonito, os cabelos com um corte bem europeu, sabe-se lá se foi cortado com uma tesoura de jardineiro, todavia parecia cair-lhe bem.

Clara não resistiu e olhou para o rapaz, seus olhos se encontraram, os castanhos e os azuis, um arrepio foi sentido pela mulher, ela sorriu, foi involuntário e ele respondeu com um sorriso.

“O que esse garoto viu em mim? Qualquer turca mais nova tem muito mais charme que eu!” , pensava Clara. Sim, qualquer turca poderia ter muito charme, mas nada comparado a aura de poder que paira sobre as brasileiras, provavelmente a sua exoticidade tenha chamado a atenção do rapaz.

O VLT estava se aproximando, Clara volta-se para o veículo que vinha calmamente deslizando pela rua, ele para, ela aperta o botão, a porta se abre e Clara embarca.
Ela percebe ao se sentar que o rapaz ainda a olhava da rua, o Strassenbahn segue seu caminho. Clara se sente engraçada e curiosa com a situação, “vou contar pra Roberto! No mínimo meu italianinho vai se achar o máximo e vai dizer coisas típicas dele: Sou sortudo por ter a mulher mais linda do mundo que para o transito!, haha, estou longe disso, mas perceber que ainda sou notada é muito bom! Pensava a mulher, feliz consigo mesma.

E o VLT ia segundo sua viagem e novamente Clara voltara a pensar em agarrar Roberto no aeroporto ainda essa noite...

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