quarta-feira, 7 de maio de 2008

Na praia

Sábado e um sol radiante, naquele setembro, Miguel havia visto que o tempo para o fim-de-semana seria bom e combinou com Rafael uma praia, eles e as meninas. O quarteto já estava enturmado, nem parecia que fazia só duas semanas que começavam a conviver, graças à amizade dos garotos.

Karla e Branca adoraram se conhecer, duas pessoas completamente diferentes, quase extremos. Karla era a extroversão encarnada, uma faladora, em certos momentos ela parecia recitar um monólogo, os demais achavam isso interessante, de certa forma nunca faltava assunto se Karla estivesse presente. Seu sorriso era um farol apontando para o alto-astral ininterrupto que não parava de brotar dela. Parecia impossível alguém ficar triste ao seu lado. Suas roupas coloridas era um contraste naquele grupo que invariavelmente trajava perto.

Branca era a introversão em pessoa, sempre muito calada e de poucas palavras, falava na maioria das vezes quando era indagada, contudo Rafael sabia que ele estando por perto, de alguma forma, ela se sentia à vontade com os demais. Quase sempre exibindo um batom preto nos lábios não era raro ver seu sorriso ao lado de Rafael e uma gargalhada era sonora, quando Karla contava suas histórias.

Miguel esperava à porta de casa, eram 8:00h. Uma mochila às costas, camiseta cinza sem estampas, bermudão em tons preto e branco e uma viseira completavam o visual do rapaz que aguardava o amigo chegar.

_Pegarei Branca em casa e depois pego você, assim você me ensina o caminho pra buscar Karla. _disse Rafael ao amigo pelo telefone na noite anterior, quando combinaram os acertos finais.
_Tudo certo então, te aguardo aqui em casa!

8:10h o chevete vermelho do amigo parou e de dentro Branca acenava para Rafael enquanto saia do carro.

_Pensei que esperaria mais! _disse o rapaz para a amiga enquanto trocavam beijos de cumprimento.
_Consegui tirar Branca de casa na hora certa, dessa vez! _respondeu Miguel, sorrindo ao ver Rafael entrar no carro.
_Ah, claro, a culpa dos atrasos sempre é da menina aqui, né? _retrucou Branca, fingindo estar irritada!
_Bem, nem sempre, só em 99.93% das vezes...

Branca morde o rosto de Rafael assim que fecha a porta do carro. Miguel já estava acostumado a esses carinhos então apenas ficou observando.

Apenas 10 min depois já estavam parando na frente da casa de Karla. A garota já estava sentada aos degraus da porta, com uma mochila pendendo no ombro esquerdo. Ao ver o carro do amigo chegar, gritou na direção de casa:

_Tchau mãe, pai! Já to indo, eles chegaram!

Os pais de Karla chegaram à porta e acenaram para a turma do chevete. Rafael apertou rapidamente a buzina. Branca saiu do carro, abraçou a amiga que logo em seguida sumiu dentro do carro no banco de trás. Karla cumprimentou Rafael e beijou Miguel. O som da porta do carro fechando foi ouvido e o rapaz ao volante seguiu seu caminho para a praia.

_Os branquelos já passaram bloqueador? Não quero nenhum camarão no meu carro quando voltarmos!_ brincou Rafael, o único com o tom de pele mais escura da turma.
_Sim! _foi o que todos responderam quase que em coro.
_Muito bem, crianças obedientes!

Entre um papo e outro os 20 min que se passaram da casa de Karla até a praia nem foi sentido. Rafael achou uma vaga e estacionou. Os amigos saíram do carro com suas mochilas e foram pra areia.

_Vamos meninos, nos ajudem a estender essas cangas! _disse Karla com uma canga que parecia um arco-íris de tantas cores.

_Isso aí é pra ajudar os barcos a saberem onde fica a costa? _perguntou Rafael.

_Claro! Não quero ver nenhum bote atropelando a gente hoje! Além disso, fica mais fácil de nos encontrarmos, não acha?

Branca riu enquanto estendia sua canga branca com a ajuda de Rafael.

_Essa garota pensa em tudo! _disse Miguel, ajudando sua namorada a estender a canga na areia.

Sentaram-se sobre a superfície preparada por eles e após mais uma dose de protetor solar, Branca rompe o silencio em um momento raro de iniciar uma conversa.

_Miguel, achei tão interessante o fato de você e Karla terem se conhecido no ônibus, queria saber se você tem outras histórias... É, bem, isso se Karla não se incomodar...
_De maneira nenhuma, Branca, você me deixou curiosa agora!

_Ah? Como assim? _indaga um surpreendido Miguel.
_Ah, maluco, agora vai ter de contar! _brinca Rafael.
_Bem, gente, eu não tenho muita coisa pra dizer, vocês sabem que sou tímido e sabem que Karla está aqui hoje conosco justamente porque ela quebrou o gelo e se apresentou...
_É, tem razão, mas não adianta, conte-nos tudo! _intimou a loira de olhos azuis com um sorriso nos lábios.
_Tudo bem, então... Uma vez eu estava sentado e a minha frente tinha um banco virado pra mim, um rapaz sentava de frente, mas na diagonal e o lugar a minha frente estava vazio. Quase não cabem duas pessoas naqueles lugares, então, mesmo com o ônibus lotado, ninguém sentava, ainda mais q é de frente pro outro e o que deveria servir para socializar, acaba sendo alvo de constrangimento.
_É verdade, só sento nesses bancos quando não há alternativa. _disse Rafael.
_Isso... Eu já estava lá olhando pela janela. O ônibus parou em um ponto e subiu um monte de gente, dentre essas pessoas, uma garota q achei muito bonita.
_Loira, magra, olhos azuis... _cortou Karla em tom de piada.
_É, acho q deve ser o meu fraco! _respondeu o rapaz_ e quando eu já estava me distraindo novamente com o andar com carro, a garota aparece ao meu lado e pergunta: “será que caibo ai?” Levantei e ela sentou a minha frente. Quando voltei a sentar, reparei que o espaço para nossas pernas não existia, então eu acabei entrelaçando as minhas nas dela e nossos joelhos se encontraram. Ela sorriu e ficou lá comendo de um saco de pipocas. Já estava no fim e quando ela terminou, abriu a bolsa que estava em seu colo e guardou o saquinho. Fechou a bolsa e esfregou as mãos. Do bolso da minha calça, tirei um envelope de lenços de papel e ofereci a garota. Ela sorriu, pegou um e agradeceu. Pegou fones de ouvido e ficou lá absorta com a música. Pensei em falar algo, mas não consegui. 20 minutos depois ela levantou, eu levantei tb para dar espaço para ela passas. A garota agradeceu e eu disse: Tchau! Ela respondeu também com um sorriso. Nunca mais a vi!

_Sorte minha! _disse Karla tascando um beijo no namorado e fazendo-o cair sobre a canga.

_Também tenho uma história! _disse Rafael, deitado com a cabeça no colo da namorada.
_Hum! Então nos diga! _disse Karla.
_Estava sentado ao lado da janela, o ônibus lotado. Uma garota veio com uma bolsa no ombro e ficou parada ao lado da fila q eu estava. Algumas pessoas tentavam passar por trás dela e acabavam arrastando a bolsa...
_E você fez como o Miguel e pediu pra segurar a tão pesada bolsa... _concluiu Karla.
_Exatamente, que coisa mais previsível, não é mesmo?
_Provavelmente ela era linda, se fosse alguma feiosa você nem teria notado a presença dela! _declarou Branca.
_É, realmente ela era bonita, magra, deveria ter 1,65 de altura, cabelos cacheados e vermelhos bem vivos, olhos castanhos... Hei, calma aí, eu não faço favores só a pessoas bonitas! _defendeu-se o moreno de mechas azuis.
_Tudo bem, é cientificamente provado que as pessoas bonitas ou ditas bonitas pela sociedade a que elas estão inseridas, recebem algumas facilidades das pessoas que as rodeiam... _declara Miguel.
_Voltando ao assunto... Ela me deu sua bolsa e agradeceu com um sorriso. A viagem foi seguindo e depois de um tempo o lugar ao meu lado vagou e ela se sentou nele. Pegou sua bolsa, olhou no fundo dos meus olhos, sorriu e disse: “Muito obrigada!” Fiquei gélido.
_Era o momento ideal para você iniciar uma conversa! _disse Karla.
_Claro, só que nosso amigo não disse nada, apenas ficou com aquela expressão bovina no rosto e nem se despediu da menina quando ela se levantou! _disse Miguel
_Ele te contou essa história? _ perguntou Branca.
_Não, eu mesmo vi! Estava sentado no banco de trás!

Os quatro riram. Depois de um tempo, Miguel pergunta á Branca:
_E você? Não tem nenhuma história de ônibus para compartilhar conosco?
_Tenho sim, mas tenho vergonha dela...
_Ah, branquinha, conte ai pra gente! _disse Karla!
_É, conta pra gente! _insistiu Rafael.
_Tudo bem. Eu voltava do curso, já era noite. Sentei-me e depois de um tempo, percebi alguém me observando. Era um rapaz. Moreno, olhos claros, acho que verdes, usava uma camisa larga, um bermudão ao estilo NBA, boné para trás. Pensei: que figura. Ele insistia em olhar. Apesar de parecer um raper, ele era muito bonito e achei interessante que alguém como ele ficasse ali, olhando com tamanho interesse para uma gótica maquiada. Achei muito esquisito, porém interessante. Ele ficava lá me olhando, daí não agüente e sem querer sorri para ele. O rapaz sorriu de volta e eu queimei de muita vergonha, parando de olhar pra ele. Nesse momento percebi que ele levantava. “Está vindo pra cá, e agora o que eu faço?” Quando estava ao lado do meu banco escuto ele dizer: “Passa o relógio!” fiquei sem entender nada. “O que você disse?” “Passa o relógio garota!” então a ficha caiu, desatei a pulseira e dei o relógio para ele. O ônibus ainda tinha mais 3 passageiros que nem se coçaram. Ele deu o sinal e desceu.

Silencio sepulcral...


“ Eternal silenceeee!”

Celular de Miguel tocando. Ele atende.

_Fala! Achei que não ligaria mais. Estamos no posto 6. Beleza!
_Marco? _perguntou Rafael.
_Sim e está vindo pra cá com a Lily, não deve demorar!
_Nossa sei o que dizer... _declarou Karla.
_Tudo bem, amiga, isso já tem muito tempo!

Uma moto surge na rua fazendo ruído, sobre ela um garoto de camiseta vermelha e bermuda branca com m capacete também branco e segurando em sua cintura uma moça morena de short branco, top azul e um capacete rosa. O rapaz estacionou a moto cinza ao lado do chevete de Rafael.

_E aí, urubus e meninas! _fala Maço ao tirar o capacete
_Fala, figura!_ responde Miguel.

Lily e Marco se aproximam do grupo e enquanto estendem a canga da menina marco diz:
_Quase perdi a hora...
_Não, ele realmente perdeu a hora! _cortou Lily_ Eu que o acordei, quase tive de arrastá-lo até a moto!
_Bem, quase isso, mas to aqui não é?
_Está sim e quero ver se chega primeiro na água! _disse Rafael, que saiu desembestado em direção às ondas.
_Hei! Calma aí! Também vou! _gritou Miguel, jogando a camiseta ao lado de Karla.
_Poxa, nem uma água de coco antes? _pergunta Marco, que já sabendo a resposta, larga sua camiseta ao lado da mochila, beija Lily e vai encontrar seus colegas.

_São umas crianças esse garotos! _diz Lyli para as demais.
_Realmente... _responde Karla. _ quer bloqueador solar?
_Quero sim!

Branca olhava Rafael se divertindo com os amigos na água azul e brilhante do mar e em seus lábios o tímido sorriso da garota alva com cabelos negros e olhos castanho-claros surgia. Estava feliz por te-lo encontrado naquela festa.

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