Pescadores de sorrisos

Ônibus cheio de uma manhã qualquer, de uma semana comum, nada de especial. Sentei-me em um dos poucos lugares em que caibo, ter 1,93m não é fácil, tudo é pequeno, os joelhos esbarram no banco da frente, por isso prefiro lugares sem obstáculos ou poucas poltronas mais distantes da seguinte. Na minha frente um banco virado, esses em que as pessoas acabam sentando de costas para a rua. Estava vago até que ela apareceu. Vestia uma blusa listrada, uma minissaia, óculos escuros, unhas vermelhas e cabelos negros presos em rabo-de-cavalo. Nos pés tinha uma sapatilha toda cheia de detalhes bordados. Era magra e baixa, ao menos para mim, sua pele alva, nem parecia morar sobre um trópico e seu perfume adocicado envolveu-me. Sentou-se e descansou os óculos sobre a cabeça, assim descobri seus olhos, um misto de azul e verde. Ela apoiou a bolsa sobre as pernas e a abriu. Pegou um pequeno vidro e ao tirar a tampa, vi que era um pincel, um batom, vermelho como suas unhas. Sem se importar com o balanço...