segunda-feira, 20 de julho de 2009

Jogo na Praça

O sol abandonava o dia com seus últimos raio colorindo de alaranjado o céu daquele início de noite. Os pássaros já ocupavam boa parte das copas de Ypes-brancos para se refugiarem cansados depois de mais um dia de suas vidas.

Agachado com a respiração e o ritmo cardíaco acelerados, o rapaz estava ao lado de um colega, como preceiro ajoelhado diante do altar, entre o atabaque e o pandeiro, de frente para o berimbau. Marco sentia o suor brotar por todos os seus poros. Entre outros colegas que formavam a roda ele mirou Lily. Trajada de branco com um cordel azul e amarelo à cintura, a moça olhava para o namorado como que em resposta ao seu olhar.

Um silêncio tomou conta dos jogadores e logo a corda do arco musical vibrou ao toque da baqueta. O Mestre então deixa ecoar na Praça Afonso Corte Real a seguinte cantiga:



Berimbau chorou no terreiro
Sinhazinha correu pra escutar
Berimbau falou de um guerreiro
Que os negros iam libertar
Ele vem vestido com a noite
As estrelas a lhe iluminar
Tem a força do mar nas entranhas
E o poder dado por orixás
Sinhazinha tremeu assustada
Sem saber se ainda ficava ali
Berimbau então silenciou
E no terreiro apareceu Zumbi

Foi Zumbi

Sinhazinha tombou de joelhos
O rei negro então a possuiu
A noite fez-se fogo e o negro
Assim como veio partiu
Deixou a semente da raça
No ventre da terra Brasil
Misturou, misturou
Quem pensar que é só branco se enganou

Misturou, misturou

Branco, negro e índio misturou

Misturou, misturou

A semente da raça misturou

Misturou, misturou

No Brasil foi que tudo misturou


Com um aceno de pé os dois jogadores saíram em aú parando de pé no centro da roda. gingando, Marco olha dentro dos olhos de seu oponente, seu coração batia ao ritmo do atabaque. Com um paço à frente, o adversário de marco se aproxima, uma finta e sua perna sobe na direção de Marco. O rapaz esquiva se abaixando, tombando para um lado, e saindo por outro, na seqüencia o oponente continua atacando, girando sobre o próprio eixo esticando a outra perna aproveitando o movimento rápido. Marco se esquiva novamente e aproveitando o impulso para sair do chão desfere um chute lateral no flanco do oponente. Este apara com o braço o chute e levanta uma perna contra o rapaz. Marco firma rapidamente uma base de ginga e apara com o braço a sola do pé do jogador atacante.

Num misto de baile, luta e acrobacias, os jogadores desferiam golpes contra o outro, tocando-se raramente.

A luta se seguia naquele teatro de arena. Sentado na ultima fileira Miguel observava atento o jogo do amigo. Karla sentou-se ao seu lado e perguntou:

_Quer pipoca?
_Só mesmo você para ver um jogo de capoeira comendo pipoca...
_Ah, é divertido!

Miguel pegou um punhado de pipoca e seguiu vendo o jogo enquanto a loira encostava a cabeça no ombro do rapaz.

Pulando sobre a mureta, Rafael de pandeirola na mão sentou-se ao lado do amigo, seguido de Branca e seu violão.

_Fala trevoso, depois da roda tem musica! _disse Rafael.
_Fechado! _respondeu Miguel

As meninas se cumprimentaram e ficaram tagarelando alguma coisa. No meio do teatro o ultimo acorde do arco musical foi escutado. Os integrantes saudaram o mestre e se dispersaram. Um suado Marco subia os degraus da platéia segurando a mão de Lily. Cansado ele se jogou na fileira à frente dos amigos.

_Olá! _falou ofegante.
_Fala, maluco! Melhor, não fala nada! _disse Miguel_ E aí Lily, gostei do jogo, o mais legal é que já via você jogar sempre aqui na praça antes de te conhecer!_comentando do jogo da menina antes de Marco.
_É, eu lembro de você e do Rafael, alias, como não notar?
_Ei, como assim? _indagou Marco.
_Hehe, cena de ciúmes, cara? _perguntou Karla.
_Ahn, bem, não, só curiosidade._disfarçou marco após perceber que seria um papel ridículo de sua parte.

Após ser zoado por todos, o rapaz fala:

_Então, cadê o som?

Branca que já estava com seu violão fora da capa, acariciou as cordas do instrumento e fez iniciar uma melodia.
Se iniciava mais uma noite musical na Praça Corte Real.

Naldo Costa


Ps: A letra da cantiga deste conto é de autoria de Mestre Toni Vargas

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