Ressonâncias

A chuva veio, enfim, mas mansa. Garoa fina no vidro da janela. Miguel estava sentado no chão do quarto, encostado na cama, o notebook ao lado, ainda ligado mas em modo de descanso. Tocava baixinho uma playlist de músicas instrumentais que ele costumava usar para trabalhar — mas há quase meia hora ele não digitava nada. Na tela do celular, a última mensagem: Bia: "Foi especial te reencontrar hoje. Até breve, Miguel 🌿" Ele sorriu com a delicadeza do emoji. Havia algo em Bia que mexia com ele de um jeito novo e antigo ao mesmo tempo, como uma lembrança não vivida. Algo pulsava dentro dele, e não era só atração — era vontade de conhecer mais, de não deixar passar. Mas isso não podia crescer escondido. Respirou fundo e se levantou e foi ver Karla. Ela estava no Consultório improvisado de sua casa, arrumando alguns cristais em uma prateleira. O cheiro de incenso de mirra pairava no ar. Ela vestia uma camiseta larga com a estampa do Dead Can Dance e tinha um láps preso entre os...