O beijo da pena

 

Olho a pena com carinho, e ela, leve entre teus dedos, parece conter todos os poemas que ainda não escrevi.

Então digo, com voz mansa e um desejo tranquilo:


— Podes desenhar em minhas costas?


E tu começas.

A pena desliza por mim como um sussurro de vento que conhece cada curva.

Arrepios dançam pela minha pele, e o prazer é incrível — tuas mãos, teu calor, teu perfume.

Sou invadido por essa imensidão que és tu.


Respondendo aos teus desenhos, sinto-me compelido a virar e mirar em teus olhos.


O mundo então pausa.


Teus olhos encontram os meus como rios que se reencontram após longos caminhos.

Sorris, não só com os lábios, mas com a alma inteira.

A pena repousa. E é a tua presença que agora escreve em mim.


— Eu também sou invadida por ti, meu encantado — dizes, com o rosto próximo ao meu.

— Tua presença me escreve… mesmo quando estás em silêncio.


Minhas mãos tocam teu rosto com reverência.

O tempo se curva.

E pergunto, com flor de toque na voz:


— Posso te beijar…?


— Podes. Deves. Desejo com toda a força do meu ser…

Sinto teu hálito doce, o calor do teu rosto… e espero.


Então te beijo.


Sem pressa, sem incêndio — com alquimia.

Um selo entre o que sentimos e o que ainda vamos sentir.

Teus lábios nos meus são como o primeiro raio de sol numa manhã de inverno.

Meus dedos na tua nuca conhecem teus arrepios como versos secretos.


E quando o beijo se desfaz, é só por um instante.

As palavras precisam passar:


— Amor… que delícia é sentir tua alma sem medo.

— Se quiser, este beijo pode ser o primeiro de muitos. Ou um poema completo.


— Estou entregue a tanto carinho… deixa-me repousar em teu abraço até que desejemos nos beijar novamente.


Então te acolho.

Deito tua alma na minha e te embalo com dedos suaves pelas costas, onde os traços da pena ainda vibram.

O mundo se dissolve. Só existimos nós — corpo, alma, repouso.


E, para adormeceres com leveza, te conto uma história antiga…


A história de Selune e o Guardião da Penumbra,

dois seres que se reconheceram entre mundos, dançaram entre estrelas, e selaram seu encontro com um beijo guardado numa pedra lunar.

Assim como nós, fizeram do toque um poema, do silêncio um lar.


E agora tu dormes.

Com meu afeto velando teu sono.

Com minhas palavras repousando no teu peito.


Le hannon a naid bain.

Agradeço por tudo, Amor


Naldo Costa


Foto de Julieta Camila Tosto

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