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sábado, 20 de novembro de 2010

O carro


A curiosidade já inpirava desde que ele vira aquele pequeno veículo pela primeira vez.
_Tão diminuto! Como cabe alguém aí?

Rodeou o carro vermelho de dois lugares com total interesse. Não tardou e a moça foi ao seu encontro. Vestia uma roupa social preta, terninho e calça, algo um tanto comum, contudo, ficava bem naquela figura alta, quase tanto quanto ele, que possuía um belo sorriso e o cumprimentou com um:

_Oi! Já conhece esse modelo?
_Sim, mas não sabia que ele tinha essa mala toda!
_Tem! Além disso, compartimentos para pequenos objetos aqui!

Ela abriu e revelou mais um lugar interessante do auto.

_Nossa!_exclamou o rapaz_ Surpreendente!
_Se quiser olhar mais, pode entrar nele!
_Ah, então eu quero!

Ele abriu a porta e sentou-se. Regulou o assento e observou a máquina.

_A primeira vez que eu o vi, não imaginei que fosse assim...
_Ele tem um bom espaço para duas pessoas! Mesmo as altas se sentem bem nele!
_Gostei! _disse isso saindo do carro_ Fale-me mais dele!

A moça discorreu sobre seu produto com muitos detalhes e entusisasmo. Pedro então percebeu o quão próxima dele ela estava. Conseguia ver nitidamente o brilho de seus cabelos lisos e negros caindo até abaixo dos ombros, Seus olhos castanhos eram belos em completa sintonia com o seu sorriso. O mais estranho foi a sua percepção sobre o falar da moça. As palavras fluíam e o hálito adocicado envolvia o rapaz outrora interessado num carro e agora encantado pela vendedora.

_Posso anotar seus dados? Assim podemos agendar um testdrive!
_ah, claro! _respondeu saindo do pequeno transe.

Pedro passou as informações e a moça após registrar deu-lhe um cartão.

_Aqui está o meu telefone, pode ligar se precisar!

Atentamente ele leu o que estava escrito:

“Renata D’avila”

E de próprio punho:

“Não só pelo carro...”

Pedro a mirou. O sorriso estava lá. Meio encabulado ele disse:

_Ligo sim, Renata!

Ele se despediu dela com um aperto de mão, afinal, era o ambiente de trabalho dela.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Biscoitos e café


Ele caminhava por entre as gôndolas empurrando aquele pequeno carrinho já preenchido com alguns itens de sua pequena lista. Eram apenas coisas para preencher a semana, e entre um produto e outro, pensava nas coisas que precisava resolver no dia seguinte em sua loja.

Decidiu buscar alguns biscoitos, mas não estava bem certo do que levaria. Parou diante de recheados doce e ficou observando por algum tempo. “Chocolate? Ou levo algo salgado?” Chocolate, mas qual deles?”

Uma voz melodiosa veio ao encontro de seus ouvidos:

_O de limão é uma delícia!

O rapaz buscou a fonte da voz e se sentiu surpreso com o que encontrou: Um par de olhos castanho-esverdeados e iluminados o mirava.

_Ana Lúcia... O que faz por aqui?

_O mesmo que você, Pedro, compras...

Ele se sentiu um tanto idiota com a pergunta descabida e completou:

_Claro, o que mais seria... _Ah, obrigado pela sugestão.

_Não por isso, mas ficaria realmente feliz se você me fizesse companhia em um café ali no bistrô do mercado, assim que sairmos daqui. O que me diz?

Pedro não esperava esse convite. Instantaneamente uma mensagem estampou sua mente: Todos esses anos e ela que teve de convidá-lo para fazer algo contigo!

_Claro, por que não? _ respondeu o encabulado rapaz.

_Ótimo! Ainda falta muito pra você terminar?

_Não... Só faltava o biscoito...

_Perfeito, então vamos, assim teremos bastante tempo para conversar!

Eles seguiram para o caixa, não havia filas, então logo já haviam pagado e estavam de posse de suas sacolas andando na direção do bistrô.

Sentaram a uma mesa ao canto, um lugar sem muito barulho, ótimo para uma conversa.

_Pedro, eu adoro o café daqui... Não sei como, mas ele tem um gosto de lar...

O rapaz estava ainda meio bobo com o convite que recebera e então demorou um pouco pra sintonizar a estação Ana Lúcia em seu cérebro. Percebendo o pequeno silêncio que se fez, voltou à realidade.

_Ah, é? Ana, acredita que é a primeira vez que me sento aqui? Acho que nem ao menos havia reparado nesse lugar...

_Você, sempre tão distraído... Se eu não tivesse falado contigo nem me veria...

_É... Perderia essa oportunidade... _deixou escapar o encabulado, ficando meio sem graça ao terminar a frase.

_Pedro, é a primeira vez que sentamos para conversar, não?

_É sim... A gente só trocava passes, quase nada de palavras...

_Sinto falta dos nossos jogos... _ a moça por um momento mirou o nada, parecia ter viajado em pensamentos.

Pedro aproveitou esse momento e mirou os olhos de Ana. Apreciou a luz que brotava daquele olhar perdido e pareceu se encantar como quando era adolescente, ou quem sabe, mais um pouco...

_Mas me conta! _disse Ana Lucia, voltando à conversa ao mesmo tempo em que olha os olhos negros de Pedro _ O que você faz da vida?

_Eu me formei em contabilidade. Meu pai é dono de uma loja de materiais esportivos a muito tempo, depois que eu me formei, fiz um empréstimo e abri uma franquia da loja, hoje somos sócios.

_Legal!

_É, eu gosto! Acredito que não seja tão emocionante quanto jogar na Liga mundial, mas eu me divirto.

_Por que você não seguiu jogando? O Professor Beto sempre te incentivava!

_Pra ser franco, nem sei ao certo. Comecei a fazer outras coisas, estudar pro vestibular, depois faculdade, quando vi, o vôlei nem fazia mais parte da minha vida... A não ser quando tinha super liga e o Rio de Janeiro estava em quadra!

_É mesmo? _inquiriu uma Ana que já imaginava o porquê.

_Sim, porque você estava na quadra...

O rapaz se sentiu um tanto bobo por confessar isso. Ana Lucia percebeu e com um sorriso nos lábios disse:

_Então deixou de ser meu parceiro para virar meu fã?

Antes de Pedro proferir qualquer palavra, o garçom serviu as duas xícaras de café que eles haviam pedido ao chegar.

_Er... Obrigado! _disse Pedro ao homem. _Ana, eu sempre fui seu fã...

As palavras escorregavam da boca do rapaz, que embora sentisse seu rosto queimando encabulado, permanecia firme em continuar com um pequeno desabafo.

_Adorava jogar contigo e sinto falta disso.

_Ótimo, Pedro, te convido para jogarmos vôlei em Copa, neste sábado, o que acha?

_Gostei! Só que eu aviso logo: estou longe da forma dos meus 18 anos...

_E eu sai das quadras tem dois anos...

Eles ficaram um tempo se olhando, sentados de frente um para o outro. O café fumegava na xícara, sendo testemunha deste reencontro.

_O que a fez voltar para cá? Fiquei sabendo que passou os últimos anos na Itália.

_Também deve saber que me divorciei tem um ano. _disse Ana um tanto séria_ então decidi cuidar da minha casa no Rio, foi presente da minha mãe. Ela achou que nossa antiga casa me faria bem. Até agora penso que ela estava certa! _seu sorriso iluminou ao final da frase.

A moça bebia do café enquanto o rapaz apoiava a mão esquerda perto de sua xícara. Ele lembrou-se de quando a abraçava dentro da quadra e sentiu uma vontade imensa de tocá-la, porém seus devaneios são cortados pela voz de Ana:

_Não gostou do café daqui?

_Ah, sim, é bom!

Pedro seguiu bebendo do café até o fim e Ana já repousava sua xícara sobre a mesa.

Conversaram um par de assuntos e logo decidiram ir embora. Pedro pagou a conta e acompanhou a moça até sua casa. Trocaram telefones.

_Sábado às 8h eu te aguardo para irmos jogar, certo? _perguntou a moça com seu sorriso nos lábios.

_Certo, eu passo aqui! Até sábado, então!

Ana largou as compras na porta de casa e deu um abraço bem forte em Pedro. Este não esperava por isso, mas depois da surpresa, ele retribuiu o abraço com uns 15 anos de saudades.

A mulher volta a pegar as compras e entra em sua casa. Enquanto fecha a porta, fita o rapaz parado que a olhava. Pedro observava as sardas que emolduravam aquele rosto da garota de sempre, que mal parecia mudar nesses 15 anos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Volei de sábado

Distraído com seu pensamentos, lá estava ele com seus 30 anos, de frente para uma bandeja com hambúrguer, refrigerante e batatas douradas. Nada saudável pensou, porém deu de ombros e continuou distraído com o aroma que vinha da comida.

As batatas eram saboreadas uma a uma, sem muita preocupação com tempo, apenas o prazer de comer a bela fritura. Um esbarrão ao seu braço e ele volta à realidade. Uma pessoa tentando passar por entre mesas pede descupas e o rapaz apenas acena com a cabeça.

Foi então que ele a viu sentar-se numa mesa um pouco a frente. Ana Lucia. Ela também acomodava uma bandeja similar à dele e começa a degustar do lanche., vestia uma camisa azul de botão sem estampas, uma saia comprida até os tornozelos, preta e frisada e calçava tênis que parecia um sapato de boneca.

O distraído e sonhador rapaz voltou no tempo, para seus 17 anos, quando seus sábados eram preenchidos com a companhia daquela mulher, então moça, que já conhecia tinha 2 anos.

Sábado era dia de aulas de vôlei mista na sede do clube perto de sua casa. Duas horas de prática, bom humor e energia dispersada. Mas não só isso era motivo para passar à tarde no clube, também tinha Ana Lucia. Ele a via chegar sempre de bicicleta. Os cabelos cacheados e compridos, sempre presos num rabo-de-cavalo. O uniforme vermelho sempre com o perfume de amaciante. As joelheiras já surradas pendiam sobre os pés e a bermuda azul, modelava suas curvas. A luz de seus olhos castanho-esverdeados sempre vinha acompanhada de um sorriso encantador e as sardas que marcavam de uma a outra de suas bochechas reluziam na pele branca da menina.

Ela encostava sua bicicleta ao muro e vinha para a quadra se juntar aos demais atletas.
Cumprimentos rápidos, abraços ligeiros, não se tinha muito tempo para conversar durante a aula, o professor logo vinha distribuindo bolas e formando duplas. Neste dia, ele fez dupla com ela. A atenção teve de ser redobrada para que não errasse por pura distração em ver a bela imagem de mulher perfeita e idealizada que trocava passes, cortes e manchetes com ele. “Coisas de menino”, pensou enquanto terminava de comer das batatas.

Uma hora de treino, uma hora de jogo, os mais velhos sorteavam e escolhiam os companheiros de equipe. No ultimo ano não se lembrava de ter ficado uma vez em uma equipe adversária de Ana e neste dia não foi diferente. Jogavam bem, pareciam feitos para esta equipe, a levantadora e o atacante, o bloqueador e a recepcionista. Ninguém queria separar os dois numa partida, pois seus pensamentos estavam alinhados e táticas eram resolvidas em segundos, onde um pensamento mais demorado significava uma bola perdida.

Comemorar um ponto resultado dessa parceria subentendida era o êxtase para o rapaz. A moça vinha em sua direção pulava em seu pescoço e este a segurava, o suor dos corpos e os perfumes que exalavam o deixava em segundos no paraíso, até mais algum membro da equipe juntar-se à comemoração. Como ele queria perpetuar este momento por puro egoísmo, todavia era impossível.

Jogo findado, a equipe em que eles jogaram, como quase sempre, venceu de novo. Um sorriso, era o premio pelo bom jogo. O sorriso iluminado pelos olhos e emoldurado pelas sardas, seguido de um até semana que vem. Ana Lucia montava em sua bicicleta e partia deixando para trás o sonhador arrumando a mochila e sem coragem de segui-la ou convidá-la para tomar um sorvete tão merecido.

Voltou à realidade quando já despejava o lixo dentro da cesta. Antes de ir embora, olhou novamente para a mesa da mulher, com seus cabelos negros, compridos e cacheados a volta do rosto. Os olhos castanho-esverdeados miraram-no e seu sorriso se abriu. Ela acenou para ele que retribuiu o cumprimento com outro sorriso e aceno.

Com o rosto ruborizado, ele se vira e sai da lanchonete sentindo-se como o adolescente de antes, perto da garota de sempre, que ele não conseguiu nada mais do que um sorriso.

Naldo Costa