Ele caminhava por entre as gôndolas empurrando aquele pequeno carrinho já preenchido com alguns itens de sua pequena lista. Eram apenas coisas para preencher a semana, e entre um produto e outro, pensava nas coisas que precisava resolver no dia seguinte em sua loja.
Decidiu buscar alguns biscoitos, mas não estava bem certo do que levaria. Parou diante de recheados doce e ficou observando por algum tempo. “Chocolate? Ou levo algo salgado?” Chocolate, mas qual deles?”
Uma voz melodiosa veio ao encontro de seus ouvidos:
_O de limão é uma delícia!
O rapaz buscou a fonte da voz e se sentiu surpreso com o que encontrou: Um par de olhos castanho-esverdeados e iluminados o mirava.
_Ana Lúcia... O que faz por aqui?
_O mesmo que você, Pedro, compras...
Ele se sentiu um tanto idiota com a pergunta descabida e completou:
_Claro, o que mais seria... _Ah, obrigado pela sugestão.
_Não por isso, mas ficaria realmente feliz se você me fizesse companhia em um café ali no bistrô do mercado, assim que sairmos daqui. O que me diz?
Pedro não esperava esse convite. Instantaneamente uma mensagem estampou sua mente: Todos esses anos e ela que teve de convidá-lo para fazer algo contigo!
_Claro, por que não? _ respondeu o encabulado rapaz.
_Ótimo! Ainda falta muito pra você terminar?
_Não... Só faltava o biscoito...
_Perfeito, então vamos, assim teremos bastante tempo para conversar!
Eles seguiram para o caixa, não havia filas, então logo já haviam pagado e estavam de posse de suas sacolas andando na direção do bistrô.
Sentaram a uma mesa ao canto, um lugar sem muito barulho, ótimo para uma conversa.
_Pedro, eu adoro o café daqui... Não sei como, mas ele tem um gosto de lar...
O rapaz estava ainda meio bobo com o convite que recebera e então demorou um pouco pra sintonizar a estação Ana Lúcia em seu cérebro. Percebendo o pequeno silêncio que se fez, voltou à realidade.
_Ah, é? Ana, acredita que é a primeira vez que me sento aqui? Acho que nem ao menos havia reparado nesse lugar...
_Você, sempre tão distraído... Se eu não tivesse falado contigo nem me veria...
_É... Perderia essa oportunidade... _deixou escapar o encabulado, ficando meio sem graça ao terminar a frase.
_Pedro, é a primeira vez que sentamos para conversar, não?
_É sim... A gente só trocava passes, quase nada de palavras...
_Sinto falta dos nossos jogos... _ a moça por um momento mirou o nada, parecia ter viajado em pensamentos.
Pedro aproveitou esse momento e mirou os olhos de Ana. Apreciou a luz que brotava daquele olhar perdido e pareceu se encantar como quando era adolescente, ou quem sabe, mais um pouco...
_Mas me conta! _disse Ana Lucia, voltando à conversa ao mesmo tempo em que olha os olhos negros de Pedro _ O que você faz da vida?
_Eu me formei em contabilidade. Meu pai é dono de uma loja de materiais esportivos a muito tempo, depois que eu me formei, fiz um empréstimo e abri uma franquia da loja, hoje somos sócios.
_Legal!
_É, eu gosto! Acredito que não seja tão emocionante quanto jogar na Liga mundial, mas eu me divirto.
_Por que você não seguiu jogando? O Professor Beto sempre te incentivava!
_Pra ser franco, nem sei ao certo. Comecei a fazer outras coisas, estudar pro vestibular, depois faculdade, quando vi, o vôlei nem fazia mais parte da minha vida... A não ser quando tinha super liga e o Rio de Janeiro estava em quadra!
_É mesmo? _inquiriu uma Ana que já imaginava o porquê.
_Sim, porque você estava na quadra...
O rapaz se sentiu um tanto bobo por confessar isso. Ana Lucia percebeu e com um sorriso nos lábios disse:
_Então deixou de ser meu parceiro para virar meu fã?
Antes de Pedro proferir qualquer palavra, o garçom serviu as duas xícaras de café que eles haviam pedido ao chegar.
_Er... Obrigado! _disse Pedro ao homem. _Ana, eu sempre fui seu fã...
As palavras escorregavam da boca do rapaz, que embora sentisse seu rosto queimando encabulado, permanecia firme em continuar com um pequeno desabafo.
_Adorava jogar contigo e sinto falta disso.
_Ótimo, Pedro, te convido para jogarmos vôlei em Copa, neste sábado, o que acha?
_Gostei! Só que eu aviso logo: estou longe da forma dos meus 18 anos...
_E eu sai das quadras tem dois anos...
Eles ficaram um tempo se olhando, sentados de frente um para o outro. O café fumegava na xícara, sendo testemunha deste reencontro.
_O que a fez voltar para cá? Fiquei sabendo que passou os últimos anos na Itália.
_Também deve saber que me divorciei tem um ano. _disse Ana um tanto séria_ então decidi cuidar da minha casa no Rio, foi presente da minha mãe. Ela achou que nossa antiga casa me faria bem. Até agora penso que ela estava certa! _seu sorriso iluminou ao final da frase.
A moça bebia do café enquanto o rapaz apoiava a mão esquerda perto de sua xícara. Ele lembrou-se de quando a abraçava dentro da quadra e sentiu uma vontade imensa de tocá-la, porém seus devaneios são cortados pela voz de Ana:
_Não gostou do café daqui?
_Ah, sim, é bom!
Pedro seguiu bebendo do café até o fim e Ana já repousava sua xícara sobre a mesa.
Conversaram um par de assuntos e logo decidiram ir embora. Pedro pagou a conta e acompanhou a moça até sua casa. Trocaram telefones.
_Sábado às 8h eu te aguardo para irmos jogar, certo? _perguntou a moça com seu sorriso nos lábios.
_Certo, eu passo aqui! Até sábado, então!
Ana largou as compras na porta de casa e deu um abraço bem forte em Pedro. Este não esperava por isso, mas depois da surpresa, ele retribuiu o abraço com uns 15 anos de saudades.
A mulher volta a pegar as compras e entra em sua casa. Enquanto fecha a porta, fita o rapaz parado que a olhava. Pedro observava as sardas que emolduravam aquele rosto da garota de sempre, que mal parecia mudar nesses 15 anos.